Lembranças de Natal

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Lembro, de quando criança minha mãe me ensinava recitar uma poesia de Natal.  Eu era pequenina e estudava num colégio de freiras "Casa da criança Santa Clara".
Eu ficava fascinada com a estória da pequena Mariazinha  e repetia cada pedacinho que minha mãe recitava, me ensinando gestos de interpretação.
Eu tinha que fazer bonito na festa da escola. Seria o dia da entrega dos boletins e a professora e minha madrinha Leta Chaves, me escolhera para declamar.
Suava e tremia, mas de vergonha do que de medo do resultado das  notas. Eu era exemplar e só tirava notas altas.
Lembro que recitei tão emotiva e com lágrimas nos olhos, que fui aplaudida por todos os pais e professoras.

A noite é quase gelada...
Contudo, Mariazinha
É a menina de outras noites
Que treme, tosse e caminha...

Guizos longes, guizos pertos...
É Natal de paz e amor.
Há muitas vozes cantando:
"Louvado seja o Senhor!"

A rua parece nova
Qual jardim que floresceu.
Cada vitrine enfeitada
Repete: "Jesus nasceu".

Descalça, vestido roto,
Mariazinha lá se vai...
Sozinha, sem mãe que a beije,
Menina triste, sem pai.

Aqui e ali, pede pão...
Está faminta e doente.
- "Vadia, saia depressa!"
É o grito de muita gente.

- "Menina ladra! outros dizem.
- "Fuja daqui, pata feia!
Toda criança perdida
Deve dormir na cadeia".

Mariazinha tem fome
E chora, sentindo em torno
O vento que traz o aroma
Do pão aquecido ao forno.

Abatida, fatigada,
Depois de percurso enorme,
Estira-se na calçada...
Tenta o sono mais não dorme.

Nisso, um moço calmo e belo
Surge e fala, doce e brando:
- Mariazinha, você
Está dormindo ou pensando?

A pequenina responde,
Erguendo os bracinhos nus:
- Hoje é dia de Natal,
Estou pensando em Jesus.

Não recorda mais ninguém?
E ela, a chorar, disse: - Eu
Penso também com saudade,
Em minha mãe que morreu...

- Se Jesus aparecesse,
Que é que você queria?
- Queria que ele me desse
Um bolo da padaria...

Depois de comer, então
- E a pobre sorriu contente
Queria um par de sapatos
E uma blusa grande e quente...

Depois... queria uma casa,
Assim como todos têm...
Depois de tudo... eu queria
Uma boneca também...

- Pois saiba Mariazinha,
Eu lhe digo que assim seja!
Você hoje terá tudo
Aquilo que mais deseja.

- Mas, o senhor quem é mesmo?
E ele afirma, olhos em luz:
- Sou seu amigo de sempre,
Minha filha, eu sou Jesus!...

Mariazinha, encantada,
Tonta de imensa alegria,
Pôs a cabeça cansada
Nos braços que ele estendia...

E dormiu, vendo-se outra,
Em santo deslumbramento,
Aconchegada a Jesus
Na glória do firmamento.

No outro dia, muito cedo,
Quando o lojista abre a porta,
Um corpo caiu de leve...
A menina estava morta.

(Do Livro "Antologia Mediúnica do Natal - Francisco C. Xavier/Francisca Clotilde).





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