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Devastação e Abandono

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Foi uma devastação. Quase duas dezenas de cidades destruídas. Famílias dizimadas. Centenas de desaparecidos. Várias mortes. Um cenário de terra arrasada. Moradores enfrentaram, incrédulos, um tsunami de ondas violentas que levaram tudo por onde passaram. O Brasil, em regiões habitadas pela camada mais necessitada de sua população, exibiu de novo, sem retoques, a marca de um país completamente despreparado para eventos cataclísmicos. Dessa vez com um poder de estrago surpreendente. Autoridades, resignadas, demoraram tempo demais para prestar socorro e deixaram as vítimas, por dias, largadas à própria sorte. Foram incapazes de mostrar agilidade, de organizar um movimento de trabalho minimamente coordenado na direção de salvar aquelas famílias. Era mais fácil esquecer. Assistir. E o quadro só se agravou. Com poucos recursos materiais e quase nenhuma importância política para inquietar governantes, esses nordestinos ficaram à mercê da natureza, perplexos diante da varredura de suas vidas. O Estado falhou grotescamente. Em uma dimensão sem paralelo. Mesmo depois da experiência com eventos semelhantes ocorridos há pouco no Sul e Sudeste do País. Por estarem localizados nos recônditos do mapa, fora das capitais, esses brasileiros viveram seu drama como em um Haiti isolado, longe do resto do Brasil pujante que cresce à taxa de 9%.
Tiveram de disputar espaço e interesse com o noticiário da Copa do Mundo e não conseguiram sequer despertar, com o mesmo fervor, o sentimento de solidariedade geral que normalmente brota entre os cidadãos nesses momentos. Milhares de nordestinos passam exatamente agora pela dor da perda total. Sem terem o que comer, onde viver e para onde ir.



Carlos José Marques


ISTOÉ INDEPENDENTE






Aos candidatos em campanha, que só aparecem nessas localidades quando estão à cata de votos, uma boa sugestão seria evocar a mobilização e arregaçar as mangas. Gesto por demais louvável – com a feliz coincidência, para eles, de poder fazer isso em um ano de corrida às urnas.






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