Ainda escuto a buzina da bicicleta dele aqui na minha casa. Quase todo dia ele chegava pra chamar meu marido para pedalar com ele . E não era pedalada fraca não...nem tenho idéia de quantos kms eles exploravam lá pelas bandas dos engenhos de plantações de cana...
Sei que todo mundo o conhecia pelo apelido de chapéu. Um sujeito de mais de 70 anos, bem casado, pai de família. Tinha o robby de pedalar. Aliás, acho que não dormia em cima da bicicleta porque não dava.
Lembro das peripécias dele e a loucura que aprontavam juntos. Digo loucura, pois os dois saiam exagerando por ai mundo afora...
Acordavam cedo e desapareciam. Bonito, Catende, até Ribeirão eles foram pedalando...
Chegaram a sofrer atentado de roubo pelas bicicletas. Não se intimidaram com a espingarda dos bandidos e se agarraram com eles, defendendo as bicicletas aos trancos e barrancos. Hematomas, escoriações e quase me matam de susto ao chegar aqui em casa sujos de sangue em pleno almoço do dia das mães as duas hs da tarde...
Lembrando que da ida a Ribeirão, o velho caiu e se arranhou todo, mas isso aconteceu já chegando aqui cidade. E o mais engraçado de tudo isso é que eles iam escondidos da família. Eu ficava sabendo e não acreditava-
- vi seu marido lá na BR chegando em Ribeirão pedalando...
ou
- vi seu marido com o velhote depois de Alto Bonito pedalando...
Pois é , eles sempre aprontavam juntos.
Mas hoje o velho chapéu não acordou...a buzina dele não tocou aqui em casa... nos contaram que ele faleceu esta noite do coração. Coração? acredito que não...o coração do velho Chapéu não ia farrapar tão cedo, deve ter exagerado no caldinho de cana que tomava aos litros (era diabético!!! )
O enterro não poderia ser diferente. Todos os amigos foram leva-lo até a última morada acompanhaando em suas bikes.O velho certamente estava feliz por essa atitude.Acho até que pegou carona em uma delas.Pois quem morre só passa pro outro lado, mas continua entre nós!
