O rio da destruição já nasce devastado. Sente o peso da mão humana quando ainda nem de rio pode ser chamado. É só um fiapo de água brotando da terra. Quem passa nem percebe. Não fosse a placa avisando, “Aqui nasce o Rio Una”, aquele seria mais um entre tantos outros lugares que o homem desmatou para plantar milho, feijão e alimentar o gado. Da nascente silenciosa, no Agreste, até a foz, no encontro com o mar, vai cumprir a mesma sina. Por onde corre, é tratado como esgoto. Só serve para levar para longe a sujeira de cada dia. A cidade nem vê. Prefere dar as costas. Até ser engolida por ele. A tragédia que varreu a Zona da Mata Sul de Pernambuco é um alerta. Um grito de socorro. O rio está buscando o espaço que tiraram dele. Devolvendo ao homem as agressões acumuladas ao longo dos anos e das cidades por onde passa.
Reportagem de Ciara Carvalho e Verônica Falcão publicada no Jornal do Commercio em 11.07.2010