Pelas frestas das janelas, observava trêmula e apavorada os carros blindados de guerra, que desfilavam na nossa rua a procura de militantes comunistas . Ficava pedindo a Deus para ninguém delatar o meu pai, que era um homem de ideais contrários ao governo.Na minha casa tinha bastante livros Revolucionários e cartazes de Miguel Arraes, que era governador de PE pelo partido social.
Meu pai não tinha medo e falava:
-Se eles entrarem por esta porta me levam morto, porque também mato um com esta barra de ferro!
Naqueles dias eu tinha presenciado a invasão na casa de minha tia , que era filha de Severino Aguiar.Comunista que conseguiu fugir a tempo.Tinha acontecido também a morte trágica do filho dele, Ivan Aguiar, fuzilado em praça pública no centro de Recife, enrolado com a Bandeira Brasileira.
Nossa, como me lembro daqueles dias sofridos...e eu só tinha 6 anos de idade...
Papai queiimava livros e mais livros no quintal, cartazes e planfletos,era a destruição da subversão...das provas que poderiam incrimina-lo.
Miguel Arraes de Alencar
foi preso pela ditadura militar em 1º de abril de 1964, sendo encarcerado em uma pequena cela do 14º Regimento de Infantaria do Recife, sendo posteriormente levado para a ilha de Fernando de Noronha, onde permaneceu por onze meses. Posteriormente, foi encaminhado para as prisões da Companhia da Guarda e do Corpo de Bombeiros, no Recife, e da Fortaleza de Santa Cruz, no Rio de Janeiro. Em 19 de abril, seu advogado, Sobral Pinto, entrou com um pedido de Hábeas Corpus, que foi aceito por unanimidade. Arraes foi libertado em 25 de maio, e seguiu para um longo período de exílio na Argélia. Fonte:www.institutomiguelarraes.com.br |