“A minha sensação de culpa alcançou o ápice quando minha mãe disse que iria me matar. Experimentei uma mistura tão profunda de medo e culpa, que nem se compara ao dia em que fiquei com uma arma apontada para a minha cabeça durante um sequestro-relâmpago. Senti medo por nunca ter visto minha mãe tão transtornada daquele jeito e estar sozinha”. O relato é da Marcela Peres, de 28 anos, cuidadora em tempo integral de sua mãe, que acabou de completar 56 anos e há pouco tempo foi diagnosticada com Alzheimer.
Sem conseguir controlar a situação e temendo por sua integridade física, Marcela decidiu internar temporariamente a mãe em uma clínica especializada.
A agressividade exacerbada da mãe de Marcela não é algo incomum, pelo contrário. São diversos os relatos de cuidadores que são agredidos pelos pacientes de forma verbal e até mesmo física. Segundo a psicóloga Simone Manzaro, a agressividade e outras alterações comportamentais aparecem bastante na Doença de Alzheimer, porém a agressividade é a que mais atinge de forma negativa o cuidador, pois este entende como algo pessoal.
A especialista alerta que embora pareça que o idoso saiba bem o que está fazendo, é importante que o cuidador tenha consciência para entender que ele não sabe. “Já presenciei pacientes muito amorosos e calmos agredirem com tapas seus cuidadores e, logo depois, voltam a tratá-los com carinho. Por isso é importante tentar observar e identificar se existe algum evento que possa estar causando algum tipo de alteração no paciente a ponto de deixá-lo agressivo”, explica Simone.
Diversos fatores podem desencadear a agressividade do paciente, até mesmo uma comida fria. “Antes de partir para o uso de medicamentos ou uma internação, é fundamental identificar se não há algum motivo pontual que esteja gerando estresse no paciente. Uma dor, um desconforto, roupas apertadas, alucinações e delírios, constrangimento do banho, excesso de barulho, sombras, tom de voz usado pelas pessoas próximas, dentre outros, podem ser desencadeadores de agressividade”, conta a psicóloga.
O que fazer no momento do ataque
Em primeiro lugar, não revidar! Nem de forma verbal e nem física, afinal esse idoso não sabe o que está fazendo.
Procure falar em tom calmo e baixo, de formar gentil.
Chame a atenção dele para algo interessante que possa distraí-lo e como consequência acalmá-lo, se quiser use a música para isso, ou então ver álbuns de fotografias.
Observe e identifique qual foi o evento estressor e retire-o do ambiente ou não repita mais a situação.
Um ambiente tranquilo e com poucos estímulos pode ajudar.
Se a agressividade persistir mesmo com todas as recomendações, será necessário procurar um médico para nova avaliação.
Por Mariana Parizotto