Antes de tudo, é preciso deixar clara a diferença entre coisas "politicamente corretas" e imbecilidades inapeláveis. Deixar de chamar uma pessoa de forma pejorativa para discutir novas modalidades, ok, é um debate válido, e apenas os exageros e eventuais patrulhas precisam de maior atenção para que não caiamos em paranoia. O grande problema é quando simplesmente uma coisa muda de nome de forma inócua ou, quase 'novilinguisticamente', para significar seu exato oposto.
Afinal, aqueles velhinhos com andadores nos bailes da saudade ou com fraldas geriátricas nas aulas de hidroginástica, convenhamos, recebem insulto grave quando brindados com faixas imensas com os dizeres "REUNIÃO DA MELHOR IDADE". É piada de mau gosto.
Desde quando é politicamente incorreto dizer que um velho é velho? Sério, de verdade, qual o insulto nisso? CLARO que há formas de dizer isso pejorativamente, há entonações ofensivas e assim por diante. Mas digo específica e friamente sobre o termo "velho", ou até mesmo "idoso" e demais variantes. Como quando usamos "novo", "jovem", "criança", "adolescente" etc.
Mas não pode, ninguém usa, é feio etc. Fulano não é velho, fulana não é idosa: eles estão na "melhor idade". Sei. Então pergunta se não gostariam de voltar para os terríveis vinte anos, os desprezíveis trinta ou até mesmo os deploráveis quarentinha. Pois é...
Ah, sim, preciso esclarecer. Não faço parte da turma que condena os velhos metidos a mais novos, homens ou mulheres, enfim. Acho isso muito legal, não devem cair nessa bobagem de fazer papel decorativo de "vovô" ou "vovó", a menos que QUEIRAM. Ninguém deve ocupar papéis pré-determinados pela sociedade. Cada um faz o que quer.
Meu problema é mesmo com essa porra de "melhor idade", porque não é a melhor das idades, cacete. É, sem dúvida alguma (para a própria pessoa), a pior.
Uma criança às vezes parece (ou é) mais madura por força dos novos tempos, de sua criação ou atributos próprios; o mesmo pode acontecer com um adolescente. Há adultos infantilizados ou demonstrando sinais claros de velhice precoce - psicológica ou física. E quase todos esses fenômenos são comentados negativamente.
Isso inclui os velhos quando resolvem esconder a idade. Mulheres mais velhas são detonadas pela imprensa por não assumir a própria idade, ou porque se transformaram em criaturas horrorosas e assim por diante. Há um viés politicamente correto em patrulhar as cirurgias plásticas das celebridades, e até mesmo seus comportamentos em público. Os velhos, para eles, precisam ser velhos no jeito de ser.
Mas não na linguagem. A velhice, nesse particular, recebe outro tratamento. É a "melhor idade", mas aproveitada de forma ridícula. Eles são contra os velhotes malhados com carros potentes ou as tiazonas plastificadas desfilando na praia, preferindo aqueles idosos dançando valsa nos bailes ou nadando cachorrinho com ajuda da professora.
Os criadores e defensores do termo "melhor idade" fingem que os velhos não estão na pior idade. E tapam o sol com a peneira, proibindo que aproveitem esse resto de vida da forma como os próprios idosos preferem, ou seja, da melhor forma possível: ignorando a pior idade, tentando viver como se estivessem em outra.
Revisão: Hellen Guareschi
Autoria: Fernando Gravz http://www.interney.net/blogs/gravataimerengue/2010/05/03/melhor_idade_uma_imbecilidade_mentirosa/