"Gostaria de utilizar este espaço para falar um pouco de minha condição como portador do vírus da dengue. Quem já passou por ele certamente não vai ver muitas coisas novas por aqui, mas quem não passou, torço para não passar. O mosquito Aedes aegypti é um veneno, um tormento, um destruidor de lares, bares e atividades mil. A praga é invejável em força e capacidade de destruição. Todo cuidado com ele é pouco. E vou me ater aqui a somente algumas considerações que acho relevantes, pois são tantas que não exagero em dizer que o tronco comum de sintomas não chega perto do que o mosquito é capaz.
Primeiramente, é difícil acreditar que pode se estar com a dengue. Os médicos gostam de dizer que se trata de uma infecção assintomática, mas quando aparecem as mudanças no corpo e no espírito variam de febre alta (39° a 40°), dor de cabeça à prostração, dores musculares nos braços, pernas e no pescoço. Além disso, é insuportável a dor nos olhos, principalmente quando movimentamos as retinas para o lado direito ou esquerdo. Dentro da cabeça algumas coisas parecem soltas e pelo corpo uma vermelhidão (exantema) que somente o outro tem a capacidade de enxergar. Um calor insuportável sobe pelas pernas e toma todo o resto e as diarreias são fortes e não aparecem sem dores abdominais. Uma sonolência sem fim e uma apatia de morte arrebenta o corpo já debilitado. E tudo indica que um “Alien” vai sair de sua barriga a qualquer momento. Esses são alguns dos sintomas que me tomaram de jeito e passo para o segundo ponto.
É incrível a falta de paciência que nos toma. Um espirro, um telefone que toca, uma conversa ao lado, um lápis que cai, um zumbido, um chamado já são o bastante para você desejar a morte. Não estou exagerando. Uma amiga reclamou e acertou em cheio quando se referiu à “coceira de arrebentar”. Vejam o que ela disse: “sinceramente é inacreditável como um mosquitinho tão pequenininho consegue derrubar a gente dessa forma. Fiquei internada dois dias no BIOCOR e falo com todos (que) foi um pterodátilo que me atacou (risos)”. Longe do humor, vaticinou: “Sem querer te desanimar quando você pensar que esta melhorando irá começar a coçar... aí sim, você pede para morrer. Coça da cabeça ao dedinho do pé, 24 horas (principalmente à noite), nada nessa vida alivia a coceira (os primeiros cinco dias são piores depois vai aliviando). Coça em cima da unha, coça o fio de cabelo, até o dente coça (é algo inacreditável, de perder a paciência)”. A verdade nua e crua de minha amiga, entretanto, me trouxe até conforto porque achava que a doença só agia desta forma em mim. Não, ela é violenta, amarga, terrível e mata. Os médicos apontam para a existência de 4 tipos diferentes do vírus da doença e todos podem aparecer de diferentes formas, inclusive, como dengue hemorrágica que pode levar à morte.